quarta-feira, 31 de março de 2010

Quão poucos os que amam a Cruz de Jesus

Este texto foi enviado pelo Roger, percebam a atualidade dessas palavras sabendo que o livro de onde foi extraído "A Imitação de Cristo" um clássico da literatura mundial de Tomás de Kempis (1380-1471), foi escrito a muito tempo atrás
Muitos encontram Jesus agora apreciadores de seu reino celestial; mas poucos que queiram levar a sua cruz. Tem muitos sequiosos de consolação, mas poucos da tribulação; muitos companheiros à sua mesa, mas poucos de sua abstinência. Todos querem gozar com ele, poucos sofrer por ele alguma coisa. Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão. Muitos veneram seus milagres, mas poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus, enquanto não encontram adversidades. Muitos O louvam e bendizem, enquanto recebem d’Ele algumas consolações; se, porém, Jesus se oculta e por um pouco os deixa, caem logo em queixumes e desânimo excessivo. Aqueles, porém, que amam a Jesus por Jesus mesmo e não por própria satisfação, tanto O louvam nas tribulações e angústias, como na maior consolação. E posto que nunca lhes fosse dada a consolação, sempre O louvariam e Lhe dariam graças. Oh! Quanto pode o amor puro de Jesus, sem mistura de interesse ou amor-próprio! Não são porventura mercenários os que andam sempre em busca de consolações? Não se amam mais a si do que a Cristo os que estão sempre cuidando de seus cômodos e interesses? Onde se achará quem queira servir desinteressadamente a Deus? É raro achar um homem tão espiritual que esteja desapegado de tudo. Pois o verdadeiro pobre de espírito e desprendido de toda criatura - quem o descobrirá? Tesouro precioso que é necessário buscar nos confins do mundo (Prov 31,10). Se o homem der toda a fortuna, não é nada. E se fizer grande penitência, ainda é pouco. Compreenda embora todas as ciências, ainda estão muito longe. E se tiver grande virtude de devoção ardente, muito ainda lhe falta, a saber: uma coisa que lhe é sumamente necessária. Que coisa será esta? Que, deixado tudo, se deixa a si mesmo e saia totalmente de si, sem reservar amor-próprio algum, e, depois de feito tudo que soube fazer, reconheça que nada fez. Não tenha em grande conta o pouco que nele possa ser avaliado por grande: antes, confesse sinceramente que é um servo inútil, como nos ensina a Verdade. Quando tiverdes cumprido tudo que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis (Lc 17,10). Então, sim, o homem poderá chamar-se verdadeiramente pobre de espírito e dizer com o profeta: Sou pobre e só neste mundo (Sl 24,16). Entretanto, ninguém é mais poderoso, ninguém mais livre que aquele que sabe deixar-se a si e a todas as coisas e colocar-se no último lugar.
Enviado por Andrew Roger

sexta-feira, 26 de março de 2010

Confissões

Faço algumas perguntas e incentivo o questionamento entre todos os que possam ler este artigo. Peço que primeiramente, você leia sem um pré-conceito e que possa pensar com uma mente aberta. Quando pensamos nas coisas de Deus, não quer dizer que sejamos incrédulos, mas que estamos num processo de transformação. Numa passagem de uma fé menor para uma fé maior.
Será que temos pregado sobre a queda do homem, sobre a doença do pecado, sobre a sujeira do coração humano, sobre o pecado residente, sobre a lei do pecado, sobre a predominância do mal na experiência pessoal? Será que não fazemos ligeiras menções a Jesus Cristo, simplesmente por força do hábito, para fazer jus ao nome de cristãos? Não abordamos séria e frequentemente seu nascimento sobrenatural, sua dupla natureza humana e divina, seu sacrifício expiatório, sua vitória sobre a morte, sua exaltação ao assentar-se à direita do Pai, e sua parúsia em poder e muita glória. De vez em quando somos obrigados a ouvir o que o Senhor disse ao anjo de Laodicéia: ‘Eis que estou à porta e bato’ (Ap 3.20).Conversão não significa mais aquela meia-volta que marca o rompimento com o pecado e a incredulidade, aquele nascer de novo sem o qual ninguém pode entrar no reino de Deus, aquela disposição corajosa e continuada de negar-se a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Cristo sem restrições.Por não estarmos fazendo clara distinção entre adesão e conversão, estamos trabalhando para aumentar na igreja visível a porcentagem do joio em detrimento da porcentagem do trigo. Se continuarmos assim, muito em breve seremos uma megaigreja de cristãos nominais.Continuamos muito mais interessados na quantidade do que na qualidade. O crescimento numérico exerce sobre nós um fascínio muito maior do que o crescimento em santidade.Não temos feito discípulos de Cristo, mas temos ensinado as pessoas a se utilizarem de Cristo e dos benefícios do evangelho egoisticamente.Não temos conseguido fazer a difícil distinção entre ministério e mero interesse comercial. Produzimos e vendemos Bíblias, livros, revistas, jornais, CDs e DVDs de música e mensagens para edificação dos fiéis, cada vez mais numerosos, e também, em alguns casos, para encher o bolso de dinheiro. Tornamo-nos tão oportunistas quanto os vendilhões do templo e, como eles, estamos transformando a casa de oração num esconderijo de ladrões (Mt 21.13), ou quanto os vendedores de indulgências do século 16, que transformaram a igreja num mercado de salvação.Não temos colocado nossa motivação à prova. Por ausência de filtro, a verdadeira motivação mistura-se com desejo de projeção pessoal, com sede de poder, com interesses particulares, com ciúmes, invejas e rivalidades.Temos trocado a direção do Espírito pela política eclesiástica. Compramos votos e vendemos posições. Prestigiamos partidários e colocamos mordaça naqueles que não nos convêm, quase sempre em nome da revitalização da ortodoxia e da espiritualidade.Não nos humilhamos nem sob a proteção da poderosa mão de Deus. Não esperamos a exaltação que vem do Senhor na medida certa e na ocasião adequada (1Pe 5.6). Esquecemo-nos de que “a desgraça está um passo depois do orgulho” e que “logo depois da vaidade vem a queda” (Pv 16.18, BV). Não temos sido delicados com Jesus Cristo, pois o verdadeiro amigo do Noivo faz propaganda do Noivo e não de si mesmo (Jo 3.30, BV).Por meio da repressão por demais conservadora e da formulação de um monte de regras e normas, temos destruído a espontaneidade do culto e provocado muitas cisões no Corpo de Cristo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Santa Demolição


ORGULHO

O orgulho leva a todos os demais pecados: trata-se de um estado mental totalmente anti-Deus. É a comparação que nos torna orgulhosos: o prazer de estar acima das outras pessoas. Uma vez eliminado o comportamento competitivo, desaparece o orgulho. O homem orgulhoso, mesmo quando conquistou mais do que poderia desejar, tentará conseguir sempre mais só para garantir o seu poder. Uma pessoa orgulhosa está sempre olhando os outros de cima para baixo. É claro que, enquanto você estiver olhando para baixo, não terá como enxergar o que se encontra acima de você. O orgulho não vem da nossa natureza animal, mas diretamente do inferno. Ele é puramente espiritual, e, por isso, é o mais sutil e mortal. O Diabo se contenta em ver você se tornando casto, corajoso e controlado, desde que consiga instaurar em você a ditadura do orgulho o tempo todo -- da mesma forma que ele ficaria contente em ver você curado de um resfriado, para substituí-lo por um câncer. O orgulho é um câncer espiritual. Ele corrói a própria possibilidade de amor, de contentamento ou, até mesmo, de bom senso.

domingo, 21 de março de 2010

A BENÇÃO DE NÃO TER NADA

As raízes do nosso coração penetraram fundo nas coisas, e não ousamos arrancar nenhuma delas, com receio de morrer. As coisas se tornaram necessárias para nós, de um modo que jamais foi a intenção de Deus... O Senhor Jesus se referiu à tirania das coisas quando disse aos seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Portanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á” (Mt 16.24, 25) Os pobres e bem aventurados são aqueles que já não são mais escravos das coisas, que quebraram o jugo opressor; e conseguiram, não lutando, mas entregando tudo ao Senhor. Embora libertos do sentimento de posse, contudo possuem tudo: “Deles é o reino do céu”. O homem tem que aproximar-se de Deus completamente resolvido a ser ouvido, e fazer questão absoluta de que Deus aceite sua entrega total, que retire do seu coração todas as coisas, afim de que Ele mesmo reine ali soberanamente. Nunca devemos nos esquecer de que verdades como essas jamais poderão ser aprendidas apenas com a mente, como acontece com os fatos da ciência física, temos que conhecê-las experimentalmente, para que possamos realmente compreendê-las. Se quisermos de fato conhecer a Deus em crescente intimidade, precisamos palmilhar o caminho da renúncia. Tudo quanto for entregue a Ele fica em perfeita segurança, pois, na realidade, nada está garantido enquanto não for entregue a ele. Pai, desejo conhecer-te, mas meu coração covarde teme desistir de seus brinquedos. E não posso desfazer-me deles sem antes sangrar-me por dentro, e não procuro esconder de ti o terror da separação. Venho tremendo, mas venho. Por favor, extirpa do meu coração todas aquelas coisas que estou amando a tanto tempo, e que se têm tornado parte integrante deste “viver para mim mesmo, afim de que tu possas entrar e habitar a li sem qualquer rival...”
Extraido e Adaptado do livro (A Procura de Deus - A. W. Tozer.

sábado, 20 de março de 2010

Mais Uma Catástrofe

Ricardo Gondin

Por qualquer critério de justiça, os haitianos deveriam constar entre os últimos a receberem os ataques da fúria divina. Não é necessário repassar os índices da miséria que os assola; miséria crônica, injusta, maligna. No Haiti, a mortalidade infantil é campeã e a anarquia política contribui para que a pouca riqueza seja pessimamente distribuída. Tenho amigos que trabalham na Visão Mundial e já sabia dessas estatísticas. Como poderia vir sobre este povo tão sofrido um terremoto de proporções épicas? Qual o sentido de matar indiscriminadamente feiticeiros anônimos, a preciosa Zilda Arns, bebês, empregados da ONU que lutavam pela paz, turistas e soldados brasileiros?
Quando recebi a notícia do cataclismo, fiquei sem ação. O Haiti fica longe. Impotente, procurei expressar meu pesar. Chorei diversas vezes diante da televisão. Era véspera do meu aniversário. Atropelado por cenas horrorosas, tentei, mais de uma vez, coordenar minhas convicções, ligar os pontos de minha espiritualidade, descer do pedestal de minha verdade. Naquele momento frágil, vi que era necessário, pelo menos, esvaziar afirmações simplistas que formaram o chão de minha fé por muitas décadas. Diante de cenas grotescas, continuar com as mesmas declarações não só me distanciaria do sofrimento humano, como deformaria ainda mais a minha relação com Deus.
Mas parece que cada texto que escrevo, no dia seguinte a uma tragédia, provoco inquietação em fundamentalistas, liberais, ortodoxos, pensadores narrativos (sem pretensão de minha parte). Dos ortodoxos vêm os golpes mais mordazes: “Incoerente, irresponsável com o texto bíblico, propagador de um Deus pequeno e desnecessário”. Os demais criticam por que “busco respostas onde não existe”. Muitos estão contentes com o mistério. E repetem que não se deve querer especular. “A hora é de estender a mão ao que sofre”. Embora goste mais da crítica do liberal, confesso que despejei no papel minha inquietação só porque precisava quebrar possíveis paredes que me afastavam dos que sofriam. Mas, de novo, dei-me muito mal.
Sei que não adianta explicar nada. As trincheiras estão formadas. Entendo que não converterei ninguém – e nem estou interessado nisso. Entretanto, como a internet é veículo de comunicação rápido, também é suscetível a deturpações. Devo tentar debulhar melhor alguns pensamentos – talvez acirre ainda mais os ódios e as incompreensões, mas acho que vale a pena.
Procurarei esboçar ponto por ponto.
1. Os mistérios insondáveis. Sempre que em uma sinuca de bico com as convicções, parece fãcil escapar com afirmações: “isso é mistério e não convém perder tempo especulando sobre o que a gente não sabe”. Embora eu concorde em parte com esse tipo de raciocínio, acredito que muitas vezes essa postura reflete preguiça ou indisposição de demolir antigos conceitos. Não acredito que seja pecado perguntar (Em Isaías, Deus manda que o povo o questione). Alguém me provocou no twitter se eu queria “repensar tudo”. Outra pessoa respondeu por mim, e eu concordei: “E por que não?”. Sinceramente, não acredito que a fé se perde diante de perguntas difíceis. Pelo contrário, se alguma convicção não se sustentar diante do inquiridor mais feroz, talvez não mereça continuar. Perguntas podem levar a novas perguntas e a outra e outras. Mesmo que fiquemos sem resposta, o aprofundamento das questões e a busca por mais respostas é por si só, fascinante.

2. Dissimular o argumento com frases piedosas. Geralmente o debate se esvazia antes que se consiga pensar nos conteúdos porque vem precedido de frases piedosas. “Então, você está querendo acabar com a soberania de Deus?”. Essa afirmação já coloca o debate sob suspeita. Ora, se no pensamento do movimento evangélico Deus planejou, governa, gerencia, administra, todas as coisas então só um herege doido pode duvidar. Não adianta querer argumentar, a pessoa deixará de ouvir o que será dito dali em diante. Os religiosos são assim, qualquer um: espírita, muçulmano, católico, protestante. As verdades são aceitas sem racionalidade e qualquer tentativa de chamar ao bom-senso esbarra na questão da fé. “Eu creio assim e não admito que você tente me dissuadir do contrário”. Ponto final. Acontece que o Evangelho afirma que a verdade liberta. Se a verdade não pode ser confinada aos parâmetros anteriormente riscados, é preciso coragem para confrontar, duvidar. Colocar em xeque todos os alicerces das convicções é salutar. Por que não testá-las diante de tragédias? Degustá-las no silêncio? Ferí-las com os estiletes que até os ateus usam?

3. Deus tem tudo sob seu controle? Sim e não! A ambigüidade não é minha, mas do texto bíblico. A Bíblia, ao contário do que preconizam os fundamentalistas, não é homogênea. Existem sim textos, principalmente no Antigo Testamento, em que Deus é apresentado em total controle de cada mínimo detalhe de vidas e de acontecimentos históricos. Contudo, outras passagens mostram claramente que sua vontade não é sempre cumprida.
Está escrito em Lucas 7.30 que os indivíduos possuem liberdade de dar as costas ao conselho ou propósito (grego, boulê) de Deus: “Mas os fariseus e os peritos da lei rejeitaram o propósito (boulê) de Deus para eles, não sendo batizados por João”.
Também está escrito em Lucas 13.34 que a vontade (grego, thelô) de Deus pode ser frustrada. O lamento de Jesus sobre Jerusalém é emblemático: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!”.
Se a sua vontade pode ser frustrada por um fariseu, também pode por um estuprador. Portanto, o estupro seguido de morte da mocinha pobre não era da vontade de Deus! A favela não é da vontade de Deus. A criança que morre de diarréia no alto da Amazônia não é da vontade de Deus. O dinheiro da corrupção depositado na Suíça não é da vontade de Deus. E se nada disso é da sua vontade, o malvado não cumpre qualque propósito, mas expressa rebelião contra o Senhor. Deus não está no controle da chacina, do genocídio, do campo de concentração, porque se estivesse viveríamos no céu, no Paraíso, menos na terra.
Pensar em soberania como um preceito teológico desconectado da vida, mas em sintonia com textos pinçados criteriosamente para fazer valer a doutrina, parece ortodoxo, mas transforma Deus em parceiro de facínoras. Os calnivistas dormem bem com esse tipo de lógica. Eu não.

Esses pontos são suficientes para que os inimigos que ganhei com o Tsunami da Ásia se enfurecessem com o Terremoto do Haiti. Não, não ofereço todas as respostas para a morte estúpida e desnecessária de mais de cem mil almas. Contudo, assim como o pensamento do judaísmo mudou com Auschwitz, espero que a minha ortodoxia cristã seja outra depois de Porto Príncipe. Continuo disposto a provocar novas inquietações e a suscitar novas perguntas. Se não conseguir esclarecer coisa alguma, pelo menos vou me despedindo das respostas simplistas de outrora. Para mim, isso será suficiente.

Texto enviado por Andrew Roger