terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fé evangélica: um cadáver e uma autópsia

Ingmar Bergman deixou filmes inesquecíveis. Em “O Sétimo Selo” ficou a afirmação instigante: “A fé é uma aflição dolorosa... é como amar uma pessoa que está no escuro e não sai quando a chamamos”. No espírito, a intangível e incurável angústia da fé, um cético e incrédulo que crê apenas no vazio e por isso mesmo não sofre, não se aflige, diria outro. A fé ensina a não nos darmos por satisfeitos com os sucessos materiais e nem com satisfações imediatas. Igrejas cheias – mas de gente sem fé, sem esperança, que entra pela porta da frente em multidões e em ondas sai pela porta dos fundos – denunciam as desconfianças sobre um cristianismo sem essência, falsificado na religião com propósito, prosperidade, sucesso numérico (de olho no dinheiro dos fiéis). Afirmam um cristianismo copiado da experiência inicial da igreja mediterrânica contaminada pela prestidigitação, curandeirismo, magia e superstição; por assombrações, almas penadas, espíritos imundos, orações esotéricas e carismas reluzentes, mas sem amor (“ágape”), combatidos pelos apóstolos de Cristo (1Co 12,13,14). Nele não há lugar para Paulo ou Lutero, pregadores da fé incondicional e da graça.
Muitos se servem da fé condicionada, pragmática, como anestésico, droga comercializada, e entregam-se à alienação (“allienus”: ficar fora de si, não exercer o papel de pessoa consciente). Para alguns, a fé não é assim, quando se pedem soluções definitivas para atacar estruturalmente a onda de violência, de corrupção, de injustiça social que grassa no país e no mundo. Trilhamos para um futuro com rastros de sangue e vidas inocentes ceifadas pelo despreparo e pelo descaso ou inconsciência.
O cristianismo simbólico, carismático, dispensa a fé incondicional, desconhecendo a esperança ética de transformações. Para muitos evangélicos, preocupados com a prosperidade e solução para tudo, vale o dito: "Entre Deus e o dinheiro, o segundo é o primeiro" (LeonardoBoff). Não é inclusiva, a fé neoevangélica. Não considera a luta da mulher por direitos iguais; despreza as minorias sexuais oprimidas e as alija da vida de fé; esquece as crianças sob forte risco social, que morrem como moscas nas periferias das metrópoles e são condenadas à marginalização perpétua. Crianças de hoje também levam armas de fogo para as salas de aula.
Esta sociedade (somos 15% evangélicos, 75% católicos, 10% outros credos, segundo o IBGE/2000) ignora as consequências da pobreza e miséria enquanto paga o preço, aliviando-se por meio do consumismo compulsivo. Drogaditos, alcoolistas, no mesmo plano de abandono e desespero, marcam a realidade presente. Jovens evangélicos ou carismáticos servem à alienação nos louvores gospel, na pele tremida pela oração esotérica. Enquanto isso, ocupam altares em busca de espaço e sucesso, olhos estrábicos à violência absurda que não se quer combater. Na fuga religiosa, o púlpito e a mesa da comunhão, alimentadores da fé, são substituídos por palcos, ofertórios compulsórios, promessas jamais cumpridas. Deus é bajulado com louvação insincera; não há lugar para a oração íntima, indignação, denúncia no novo culto pentecostalizado. Todos querem ser ricos e bem-sucedidos sob o favor da grana idolatrada: ter e aparecer! Almejam a prosperidade pessoal e nada mais. Pregadores anunciam igrejas e crentes ricos como sinais da bem-aventurança eterna.
O mundo das desigualdades sociais e regionais em nosso país está aí. A concentração do poder, do saber, da renda e da propriedade, das drogas, da violência, da fome, da cegueira espiritual e das falsas propostas religiosas estão aí e não se vê. “Em tudo isso, é curioso notar que a fé sem ética está morta (cf. Tiago). E uma vez morta, só nos resta fazer sua autópsia e torcer pelo seu breve sepultamento, para então renascer líderes que com integridade cumpram sua missão amando a Deus e a este povo sofrido!”, como disse o pastor Eduardo Pedreira.
A fé bíblica implica em fidelidade (“emunah”, “pistis”, acompanham o sentido: “o justo viverá pela fé”, Hb 2.4, Rm 1.17, Gl 3.11; não se pode traduzir como sentimento de favorecimento subjetivo e íntimo). A fé incondicional constitui o essencial da atitude de Cristo diante da cruz, no sofrimento ético contra o desespero e a angústia diante das injustiças. Cristo reconhece-se como parte do povo bíblico e seu sofrimento quando entregou-se à fé (“emunah”) na esperança do cumprimento das promessas de realização do desígnio divino contra o domínio da morte. Um mundo novo é possível. O reino chega através dos sofrimentos, da indignação, da recusa ética da injustiça. Jesus teve que amargar o fracasso total de seu empreendimento, na morte, para juntar seu povo na missão de Deus na luta pela salvação e libertação da humanidade em todos os tempos. Jesus teve fé no que anunciava!

Derval - www.derv.wordpress.com

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cosmovisões

As cosmovisões são importantes. Clarificá-las não é um exercício acadêmico, uma teoria intelectual ou um conceito filosófico. As cosmovisões são parte integral das vidas daqueles a quem minstramos toda semana. Elas determinam relacionamentos, sucessos e fracassos, bem como objetivos e motivações. Se queremos ver alguma coisa mudar, precisamos primeiro mudar o modo como vêem o mundo. A cada semana você se apresenta diante do povo para compartilhar a Palavra de Deus, mas eles trazem diferentes cosmovisões para o templo. Quais são elas?

1. Vence quem tem mais coisas.
Esta é a cosmovisão do materialismo e pode ser resumido numa só palavra: mais. O materialismo diz que o que importa na vida é comprar coisas. Quem assina embaixo desta cosmovisão vive geralmente para colecionar coisas. Resposta da Bíblia: Jesus disse em Lucas 12: “A vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens”. Ele pede que não nos avaliemos pelo tanto que temos.

2. Preciso pensar em mim primeiro.
Vivemos num mundo do “primeiro eu”. Os anúncios comerciais reforçam esse ponto de vista com slogans do tipo: “Escolha seu próprio caminho”, “Nós fazemos isso para você, “Você precisa pensar no que é melhor para você” e “Você merece”.
A idéia do “primeiro eu” tem infectado as comunidades, afetado os casamentos, destruído mercados de trabalho e até arruinado igrejas. Jesus diz: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.25). Jesus afirma que o sentido da vida não vem de nos servirmos a nós mesmos, mas de servirmos a Deus e ao próximo.

3. Faça o que lhe faz bem.
O nome disso é hedonismo – a crença de que a coisa mais importante na vida é o que sentimos. O objetivo número 1 do hedonista é sentir-se bem e divertir-se. Resposta da Bíblia: “Quem se entrega aos prazeres passará necessidade” (Pv 21.17). A busca do prazer nunca é satisfeita.

4. Faça o que funciona para você.
Esta cosmovisão não se refere ao certo e ao errado. Pouco importa se algo vai ferir o outro ou não. Se funciona, ótimo. Num mundo multicultural e pluralista, essa é uma cosmovisão muito popular. Ninguém quer ouvir que está fazendo algo errado. De fato, a única coisa errada neste mundo é alguém dizer que tem alguma coisa errada. Resposta da Bíblia: “Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte” (Pv 14.12). Nossas idéias parecem certas, mas o fim é a morte. Você não quebra as leis de Deus; elas quebram você.

5. Deus não existe.
Esta é a cosmovisão do naturalismo ou ateísmo. Os naturalistas crêem que tudo na vida é resultado do acaso. Somos todos acidentes da natureza. Não há nenhum grande criador ou grande projeto. Deus não existe ou não importa.
Se Deus não existe, não há plano ou propósito para a vida. Se não há propósito, a vida não importa. Nosso único valor advém do fato de que Deus nos ama, criou-nos e nos desenvolveu. Para o naturalista, a vida não tem valor, significado ou propósito.
Paulo diz em Romanos 1.20: “Desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis”. Em outras palavras, podemos ver a natureza e ver um pouco de Deus. Sabemos que Deus é criativo, poderoso, organizado e diversificado. Há uma porção de coisas que sabemos sobre Deus olhando a natureza.

6. Você é o seu próprio Deus.
Esta cosmovisão, também conhecida como humanismo, é muito popular no mundo ocidental. Segundo ela, somos senhores de nosso próprio destino. Isso aparece no movimento da nova era: “Você é divino; você é Deus”. Que ironia. Deus nos formou para cultuar. Se não cultuamos a Deus, cultuamos a nós mesmos.
Paulo diz em Romanos 1.25: “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador”.
Todas essas cosmovisões têm conseqüências. A cada dia somos afetados e influenciados por elas. Essas cosmovisões afetam a felicidade e o sucesso das pessoas a quem ministramos. A cosmovisão bíblica diz que Deus nos fez para seus propósitos e que nós existimos para o seu prazer. Esta visão é radicalmente diferente dessas que vimos. Você quer mudar os corações dos seus ouvintes a cada semana? Mude suas cosmovisões primeiro.

Rick Warren

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Santa Paciência

Tenham um pouquinho só de paciência e leiam...Vale a pena

Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso" (Provérbio chinês")

Paciência (Jabor)

Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados...
uita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma "lady" solta palavrões e berros que lembram as antigas "trabalhadoras do cais", e o bem comportado executivo... "O cavalheiro" se transforma numa "besta selvagem" no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar!
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma "mala sem alça".
Aquela velha amiga uma "alça sem mala", o emprego uma tortura, a escola uma chatice.
O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado...
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso do Jabor e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.
A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.
Pergunte para alguém, que você saiba que é "ansioso demais" - onde ele quer chegar?
Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você?
Onde você quer chegar?
Está correndo tanto para que?
Por quem?
Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?
Respire... Acalme-se...
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...
NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL...
SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA...

Pense nisso...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A igreja que não cala

Esse é o cenário da igreja brasileira: cristãos que se contentam com a normalidade dos fatos. Gente que não se importa com a injustiça. Gente que não percebe a ironia dos tiranos. Gente que não faz questão de confrontar poderes opressores estabelecidos. A igreja brasileira precisa romper com o ciclo de corrupção neste país. Precisa dizer não ao pecado estrutural que infesta a nação. Precisa encarnar seu caráter missional de transformação. A turma religiosa precisa compreender que enquanto a injustiça prevalecer, é necessário caminhar um pouco mais.
A igreja que não caminha transforma-se em gueto e não sai do lugar. A igreja em gueto é ensimesmada, concentra em seus próprios interesses e não faz questão do que está além do templo. Entretanto, a igreja que é de Cristo vai ao encontro das pessoas doentes. A igreja de Cristo é sinal de cura, não por vanglória, cobiça ou coisa parecida, mas simplesmente por amor. Esse amor deve ser evidenciado entre os seus membros, todavia, é perceptível a falta de amor dentro da própria igreja. Sem amor, as pessoas se corrompem, sem amor, líderes enriquecem no poder. A igreja por falta de amor tem se tornado mecanismo de corrupção.
É ilícito um líder cristão enriquecer com a pregação do evangelho, porque o evangelho ensina exatamente a renúncia, inclusive material. O reino de Deus não coaduna riquezas materiais com ministério pastoral. O pastor deve ser conhecido e reconhecido pela sua simplicidade de vida, pelo amor ao próximo, por sua paixão em anunciar o evangelho, e não pelos números de membros ou seu status social. É mentiroso o líder que ensina qualquer forma de prosperidade financeira e material como sinônimo exclusivo da benção de Deus. Não há como mais suportar a licenciosidade de quem está no poder. A igreja que é de Cristo tem líderes parecidos com Cristo e não essa turma de irresponsáveis que se espalham pelos quatro cantos de nosso país se autonomeando "anjos do Senhor". A igreja que cala é covarde. Nosso papel é combater tudo isso sendo apenas sal e luz. Não somos os melhores, não somos os mais santos, todavia, somos os que não se calam mesmo que seja no anonimato.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como Transformar a Comunidade a partir da Igreja Local?

Às vezes penso que a Igreja se comporta como um bizarro grupo guerrilheiro: imagine um grupo guerrilheiro cujo o objetivo seja o de agregar às suas fileiras o maior número de cidadãos do país; imagine que o grupo, após muito esforço, consiga isto, ou seja, mais de 50% da população do país tornou-se membro do tal grupo; entretanto, como esse era todo o objetivo do grupo, este, mesmo constituindo a maioria da nação, não está no poder, isto é, tem a maioria das pessoas mas não alterou em nada a realidade à sua volta.
A Igreja, muitas vezes, parece comportar-se assim também. Todo o seu objetivo é arrebanhar a maioria das pessoas da cidade para si, sem, contudo, ter um projeto para a cidade. É por isso que, muitas vezes, a Igreja, apesar de crescer muito numa cidade, não muda em nada a vida da mesma. Não queremos apenas aumentar o número de convertidos numa cidade, queremos nos apossar dela.

Queremos que mesmo os que não se converterem sejam afetados pela presença de Deus na cidade, e que, por causa da palpabilidade desta presença, pensem muito bem antes de levantarem-se contra a vontade de Deus. Nosso modus operandi, nossa conquista, não é a busca pelo poder político e econômico; é o interceder, o salgar, o profetizar e o servir até que, pelo efeito do fermento, a cidade toda fique levedada (Lc 20.21).

(Retirado da Proposta para debate interno (31/07/03) da REPAS - Rede Evangélica Paranaense de Ação Social)

Na companhia do Espírito Santo

O Espírito Santo caminha junto com a tarefa da igreja. Não podemos falar de um sem mencionar o outro. A despeito do entusiasmo surgido nas últimas décadas em relação a novas experiências espirituais, Deus não dá às pessoas o Espírito Santo para que elas desfrutem de uma espécie de “Disneylândia espiritual”. É claro que se você estiver abatido e desanimado (ou não), o suave frescor do Espírito de Deus irá ajudá-lo a enxergar as coisas de uma perspectiva diferente, e acima de tudo, proporcionará a você a sensação da presença de Deus ao seu lado, e de seu amor, consolo e alegria. Mas a intenção do Espírito é capacitar os seguidores de Jesus a levar ao mundo as boas novas do Senhor, contar que ele conquistou a vitória sobre as forças do mal e que um novo mundo está surgindo. Devemos contribuir para que isso aconteça.
Do mesmo modo, a tarefa da igreja não pode ser realizada sem o Espírito. Às vezes ouço alguns cristãos dizendo que Deus já realizou sua obra em Jesus, portanto cabe a nós agora fazer a nossa parte através de nosso próprio esforço. Trata-se de uma compreensão tragicamente equivocada, que produz arrogância ou esgotamento, ou as duas coisas. Não há nada que possamos fazer em prol do reino de Deus sem o Espírito Santo. Sem o Espírito de Deus, a igreja deixa de ser igreja.
Sempre que uso a palavra “igreja” fico um pouco preocupado. Sei que para muitos de meus leitores a palavra “igreja” em si inclui referências a edifícios enormes e escuros, pronunciamentos religiosos pomposos, falsa solenidade e hipocrisia. Mas não tenho alternativa. Sinto também o peso dessa imagem negativa, e luto contra isso profissionalmente o tempo todo.
Mas há outro lado, um lado que mostra todos os sinais do vento e do fogo, do pássaro sobrevoando as águas e trazendo nova vida. Para muitos, “igreja” significa o oposto dessa imagem negativa. É lugar de boas-vindas e sorrisos, de cura e esperança, amigos e família, justiça e uma nova vida. É nela que os desabrigados encontram um prato de sopa e os idosos alguém com quem conversar. É nela que encontramos pessoas trabalhando com viciados em drogas e empenhadas em campanhas em favor da justiça social. Nela você encontrará pessoas aprendendo a orar, abraçando a fé, lutando contra a tentação, descobrindo um novo propósito e uma nova força para viver. É nela que as pessoas se reúnem, com suas fraquezas e falta de fé, e então descobrem que quando se juntam para adorar ao Deus verdadeiro, se tornam mais fortes. Nenhuma igreja é assim o tempo todo, mas um grande número de igrejas é praticamente assim boa parte do tempo.
Não podemos esquecer que foi graças ao trabalho realizado pela igreja da África do Sul que o apartheid foi derrubado, depois de muitas orações, sofrimentos e lutas, e uma nova liberdade chegou àquela terra, sem o grande derramamento de sangue que todos temiam. Na velha Europa oriental comunista, a igreja permaneceu viva no coração das pessoas e foi ela que, com procissões de velas e cruzes, deu um basta na situação. É a igreja que, a despeito de seus desatinos e fracassos, atua em hospitais, escolas, prisões e muitos outros lugares. Prefiro empenhar-me em restaurar o verdadeiro sentido da palavra “igreja” do que inventar nomes como “a família do povo de Deus” ou “aqueles que crêem e que seguem a Jesus” ou ainda “a reunião de todos aqueles que, no poder do Espírito, estão fazendo surgir a nova criação de Deus”. E é isso que pretendo fazer.
O vento, o fogo e o pássaro sobrevoando o ninho são imagens que ajudam a igreja a ser igreja; em outras palavras, capacitam o povo de Deus a ser povo de Deus. Isso tem um efeito surpreendente e dramático. O Espírito nos é dado para que nós mortais comuns possamos nos tornar, em certa medida, aquilo que Jesus foi: parte do futuro de Deus chegando ao presente; um lugar onde o céu e a terra se encontram; os meios para o reino de Deus progredir. O Espírito é dado, na verdade, para que a igreja possa compartilhar da vida e da obra de Jesus, agora que ele foi para a dimensão de Deus — ou seja, o céu. (é esse o significado da “ascensão”: Jesus permanecerá na dimensão de Deus até o dia em que o céu e a terra se tornarem um, e ele então estará presente pessoalmente na união entre o novo céu e a nova terra).

Texto retirado do livro Simplesmente Cristão (Editora Ultimato, p. 134-136)

Uma reversão gradativa

Screwtape reitera a sua premissa

Não importa as tendências do seu paciente, mantenha-se focado no seu objetivo central. Faça-o começar a tratar o patriotismo ou o pacifismo como parte integrante da sua religião. Em seguida, faça com que ele considere, sob a influência do espírito partidário, essa parte como a mais importante. Depois disso, continue a acalentá-lo de forma silenciosa e gradativa, até chegar a um estágio em que a religião passe a não significar nada mais do que parte da “causa” na qual o cristianismo é valorizado, principalmente pelos excelentes argumentos que ele é capaz de produzir a favor do esforço britânico de guerra ou do pacifismo. A atitude da qual você deve se precaver é aquela em que afazeres temporais sejam tratados primariamente como meio de obediência. Uma vez que você tenha feito do mundo um fim e da fé um meio, você terá praticamente conquistado o seu paciente humano, e fará pouca diferença que tipo de finalidade mundana ele possa estar buscando. É precisamente nesse momento que as panfletagens, as politicagens, os panelaços, as causas e as cruzadas passam a significar mais para ele do que as orações, os sacramentos e a caridade; então ele estará ganho – e quanto mais “religiosos” eles forem, mais seguros estarão em nossas mãos. Eu mesmo seria capaz de lhe apontar daqui de baixo vários desses casos.

C.S. Lewis – de The Screwtape Letters [Cartas do Diabo a seu Aprendiz]

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Outridade

Ao procurar por mim mesmo,
vou vasculhar todas as referências de minha identidade,
fuçar os vestígios de minha existência
e percorrer a estrutura da construção do que sou
– ou ainda do que penso ser –
Eu sou, em grande parte, o maior objeto de minha curiosidade,
porque não sou um tipo, sou muitos, e ser muitos, confunde-me,
quando percebo que imaginava ser um, e não muitos
Como toda alma do homem, a minha também, as vezes,
demonstra-se uma mata, densa, espinhenta e escura,
que dificulta o acesso, a busca, o reconhecimento,
a cartografia de uma ilha avistada do alto, sem acesso de fato,
pois as pegadas em mim, se apagam a cada noite,
e não me acho, se me procuro em mim mesmo,
não é porque sou infinito, é porque sou labirinto, e me perco,
cada vez que, em mim, percorro caminhos
que não me levam a mim mesmo,
e não é que eu seja um deserto inabitado,
é que sou cidade super povoada, habitada por uma multidão,
que sou eu mesmo,
mas não sou, se apenas em mim sou,
No outro eu me encontro,
no outro está o que sou, no outro o meu reflexo,
o mais doloroso e desafiador – aquele que reage,
que me obriga não apenas ver como estou, mas também o que faço,
não apenas o que sou, mas também de que maneira consigo ser –
no outro, o eco, a reverberação, a força semântica da minha fala,
a flexão medida e desmedida, das palavras que emito... ou evito –
do outro volta a minha pergunta, em forma de resposta dada,
ou recusada, em silêncio frio,
como neve, que também serve, para me confrontar
A estrada que se traça no outro,
é caminho que leva ao meu encontro,
o que sou, sou, enquanto sou, na perspectiva do outro;
no outro, sou rio e terra, ilha e sombra, abrigo e trilha,
fora do outro estou ausente,
e essa outridade parece ser destino,
a queda encastelada da fortaleza de si mesmo,
parece revelar, enfim, o vasto campo da liberdade,
deste terreno que é outro, onde me encontro
No outro, minha esperança, em ebulição, sofre a emulação
que a mantém eterna, a cada dia;
minha existência se esclarece, minha devoção se justifica,
múltiplos caminhos se convergem, e seguem,
na invenção de tantos outros, que é outro;
o outro sou eu vendo a mim mesmo,
agindo sobre mim mesmo,
discernindo em mim mesmo a construção da estrutura
que é gramática em mim, escrita, para a interpretação restrita,
de quem de fato eu sou.

Sonho

Sonhei certo dia que estava entrando em uma igreja. A entrada dela era um portão grande, feito de carvalho, bem antigo. Suas paredes eram sólidas. Bem sólidas, grossas, feitas de pedra. Pareciam paredes de castelo medieval de tão fortes, sólidas e seguras. Mas essa igreja, que mais se parecia uma catedral de tão grande, era um lugar insalubre, pois não havia espaço para a entrada de luz. Não tinha iluminação interior, nem de velas. Apenas um púlpito feito para caber só um modelo de Bíblia, juntamente com um hinário devidamente autorizado. Os bancos eram de madeira, com direito a porta-copos de ceia e genuflexório acolchoado, para não machucar os joelhos. Ao chegar perto das paredes, vi que, em cada uma das pedras, havia algo escrito. Umas diziam “única visão teológica correta”, outras diziam “estatutos e regulamentos”, e em outras ainda estava escrito “quem não é por nós, é contra nós”. No sonho, ao começar o culto, vi que a plateia era formada apenas de manequins, desses de vitrines de lojas de roupas. Vi que o pastor também era um manequim, com exceção dos olhos, estes humanos, mas que choravam muito. Em momento nenhum vi Jesus naquele lugar. Quis sair logo daquele ambiente claustrofóbico e agonizante.

No sonho, fui a outra igreja. Era muito diferente da primeira. Também era muito grande, mas havia apenas uns panos furados servindo como paredes. Não havia portas, então qualquer um podia entrar e sair. Em vez de bancos, almofadas no chão. Não havia púlpito, já que não tinha Bíblia nem hinário. Era um ambiente de festa o tempo todo. Algo muito cansativo, por fim. Notei que nos panos também havia coisas escritas. Ao chegar perto, li “honra ao nosso líder e a Deus, que foi esperto em colocá-lo entre nós”, “somos livres dentro daquilo que a liderança afirma ser seguro”, “quem não é por nós, é contra nós”. O engraçado é que esta última frase fora encontrada na igreja anterior. Ao começar a concentração (há muito o termo “culto” saiu de moda nessa igreja), vi que a plateia também era formada de bonecos. Mas não eram manequins de vitrine, e sim aqueles bonecões de posto de gasolina, que ficam agitando os braços o tempo todo. O pastor também era um bonecão de posto, mas tinha olhos humanos e que estavam chorando. Da mesma forma, não vi Jesus por ali. Saí correndo.

Entrei numa terceira igreja. Suas paredes eram sólidas como a primeira, mas havia grandes e abundantes janelas, que permitiam a entrada da luz. Suas paredes protegiam o povo, mas não os sufocava como na primeira. Em vez de bancos de madeira, havia almofadas no chão como na segunda igreja. Isso permitia um ambiente mais informal, mas não de eterna festa irresponsável, como visto anteriormente. Vi que havia frases escritas nas paredes. Mas eram bem discretas, e todas diziam o seguinte: “retorno ao Evangelho simples do Deus simples”. Na hora em que começou o culto, vi que a plateia era formada de gente. Mas alguns ainda tinham partes de manequim. Outros, partes de bonecão de posto. O próprio pastor tinha partes de bonecão e de manequim. Mas ali ele não chorava. Pelo contrário, vi em seu rosto um misto de alegria e alívio. Além disso, vi naquela terceira igreja algo maravilhoso: Jesus estava ali, cuidando daquelas pessoas, retirando cuidadosamente as partes de manequim e de bonecão de posto, trocando por partes saudáveis de gente.

Logo acordei. Não acreditava direito no que tinha sonhado. Corri para a internet procurando alguma pista sobre a realidade deste meu sonho. Logo me deparei com notícias de um bonecão de posto amealhando muito dinheiro para “evangelizar” e de um manequim lançando um projeto semelhante. Então vi que meu sonho não era apenas uma descarga dos meus neurônios. Foi um aviso. Jesus está vendo o estado da igreja brasileira e logo restaurará a sanidade de seu povo, deixando para trás os bonecões, os manequins, suas estruturas e festas perenes. Pude, enfim, voltar a dormir tranquilo.

sábado, 14 de agosto de 2010

Milagres?

Somos um povo alegre e festeiro o ano todo, mas é por ocasião do Natal e da Páscoa, que a maioria das famílias brasileiras passa momentos especialmente agradáveis; é quando visitas de parentes e amigos, decoração especial e mesas fartas tornam palpável o aconchego festivo que se instala em nossos lares. O clima de festa de fato se justifica, pois, embora às vezes passe desapercebido, as duas datas existem para a comemoração de dois grandes feitos inusitados de Deus. No Natal comemoramos o nascimento de Jesus, no qual Deus “tornou-se homem e viveu aqui na Terra entre nós, cheio de amor e perdão, cheio de verdade”.1 Na Páscoa recordamos um evento absolutamente extraordinário, resumido por Simão Pedro em uma de suas célebres frases: “Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas disso”.2

Mesmo assim, para muitos o cristianismo é pedra de tropeço justamente por resultar de uma fé alicerçada em feitos inusitados de Deus, ou milagres, entre os quais os do Natal e da Páscoa são os mais significativos. Foram eventos marcantes – acontecimentos que selaram a fé cristã como única. O problema é que milagres parecem pertencer a uma visão de mundo estranha, pré-científica, supersticiosa, talvez adequada para a Antiguidade ou Idade Média, mas não para hoje.

Ceticismo com milagres já existiu na Antiguidade. Sua manifestação contemporânea, porém, tomou forma durante o Iluminismo. O filósofo David Hume (1711-1776), um dos primeiros mentores do ceticismo atual, dizia, referindo-se ao cristianismo, que “nossa mais santa religião é fundamentada na fé, não na razão”, completando em tom de deboche que “a religião cristã não somente foi inicialmente atendida com milagres, mas até este dia não pode ser crida por uma pessoa razoável sem um milagre. Simples razão é insuficiente para convencer-nos da sua veracidade; e quem é movido por fé para aceitá-la, está consciente de um milagre contínuo em sua própria pessoa, que subverte todos os princípios de seu entendimento, e dá-lhe uma determinação para crer o que é o mais contrário ao costume e à experiência”.3

Será que, como propalado por Hume e outros, a fé cristã depende de uma “subversão dos princípios do entendimento”? É esclarecedor ler o que o físico Alessandro Volta (1745-1827, homenageado no Volt, a unidade de tensão elétrica do Sistema Internacional de Unidades) tem a dizer sobre o assunto: "Submeti as verdades fundamentais da fé a um estudo minucioso. Li as obras dos apologetas e de seus adversários, avaliei as razões a favor e contra e assim obtive argumentos relevantes que tornam a religião [bíblica] tão digna de confiança ao espírito científico que uma alma com pensamentos nobres ainda não pervertida por pecado e paixão não pode senão abraçá-la e afeiçoar-se a ela".4

Como explicar esta enorme diferença entre as convicções de Hume e de Volta? C.S. Lewis (1898-1963), professor da Universidade de Cambridge e criador de “Narnia”, aponta o problema de Hume: “É claro que devemos concordar com Hume que, se ...[milagres] jamais aconteceram, então realmente nunca aconteceram. Infelizmente, só sabemos que a experiência contra eles é uniforme se conhecemos que todos os relatos sobre eles são falsos. E só podemos saber que todos os relatos são falsos se já sabemos que milagres jamais ocorreram. Na verdade estamos argumentando num círculo vicioso”.5

G. K. Chesterton, um dos mais prolíficos escritores ingleses do século 20, arremata: “Surgiu de algum modo a ideia extraordinária de que os descrentes de milagres os analisam com frieza e justiça, ao passo que os crentes em milagres os aceitam apenas em conexão como algum dogma. O fato é totalmente o contrário. Os que creem em milagres os aceitam (com ou sem razão) porque têm provas deles. Os que não creem neles os negam (com ou sem razão) porque têm uma doutrina contra eles... Somos nós, os cristãos, que aceitamos todas as provas reais – são vocês, os racionalistas, que refutam as provas reais e são obrigados a fazê-lo pelo seu credo”.6

O ceticismo debochado do filósofo Hume é, pois, insustentável. Cientistas cristãos como Volta, sabendo que milagres são eventos extraordinários com significância religiosa, operados por Deus e inacessíveis ao método científico, não têm problemas com eles, pois sabem que não é sua tarefa explicá-los; limitam-se a verificar evidências de sua ocorrência. Francis Collins, cientista chefe do Projeto Genoma Humano, confirma este entendimento: “Eu não tenho problemas com o conceito que milagres podem ocasionalmente ocorrer em momentos de grande significado, onde há uma mensagem sendo transmitida a nós por Deus onipotente. Mas como cientista adotei padrões muito elevados para milagres”.7

Por outro lado, um cristão algumas vezes se pergunta onde estão hoje todos aqueles milagres relatados na Bíblia e qual sua relevância para nós. Nessas ocasiões convém recordar como Asafe, o cantor, se dirigiu a Deus numa frase que expressa uma certeza experimentada e compartilhada por muitas outras pessoas: “Deus, eu lembrarei dos teus feitos maravilhosos! ...Tu és o Deus que faz milagres”.8

Quanto mais presente tivermos Deus como um Deus que opera também coisas inusitadas, mais confiantes estaremos ao enfrentarmos tempos difíceis. No outro extremo há cristãos pós-modernos que esperam de Deus uma solução para cada dificuldade por meio de milagres sob encomenda e medida. A Bíblia não induz a tal expectativa. Ela ensina que Deus cuida de nós e manifesta seu cuidado conosco até mesmo nas pequenas coisas do dia-a-dia, mas que seus pensamentos e ações estão muito acima dos nossos.9 Em resumo, no caminhar constante com Deus, o cristão reconhece de forma humilde e grata que tudo de bom provém de Deus e que ele é “socorro que não falta em tempos de aflição”.10 Pois fé cristã alicerça-se nos milagres de Deus, mas é fé em Deus; não é fé no poder de Deus, nem nos milagres de Deus.

Notas
1. O Livro, em João 1.14.
2. Nova Bíblia na Linguagem de Hoje, em Atos 2.32.
3. David Hume, Enquiry Concerning Human Understanding.
4. Traduzido de J. Gutzwiller, Das Herz etwas zu wagen, Friedrich Bahn Verlag, 2000. Também citado em K.A. Kneller, Christianity and the leaders of modern science, B. Herder, 1911 (disponível em books.google.com.br).
5. C.S. Lewis, Miracles.
6. G.K. Chesterton, Ortodoxia, 1a edição, Mundo Cristão, 2008.
7. Em entrevista à revista National Geographic, número de fevereiro de 2007.
8. Nova Bíblia na Linguagem de Hoje, em Salmo 77.11 e 14.
9. Pode-se ler sobre isto na Bíblia em 1. Pedro 5.7, Atos 14.17 e Isaías 55.7.
10. Nova Bíblia na Linguagem de Hoje, em Salmo 46.1.

A perigosa influência da televisão

A televisão é uma das mais fantásticas invenções do século XX. Ela trouxe inúmeros benefícios para a sociedade. A comunicação tornou-se precisa ágil e global. Ela encurtou as distâncias, democratizou a informação e abriu os canais do conhecimento para todos, em todos os lugares do mundo. Não obstante os grandes benefícios trazidos pela televisão, ela, também, pode tornar-se um grande perigo para a sociedade. Exatamente por sua poderosa influência, quando mal usada, torna-se perigosa. John Stott, ilustre escritor britânico, num dos seus livros sobre pregação, alerta sobre os perigos da televisão:
1. A preguiça mental – A televisão tende a tornar as pessoas mentalmente preguiçosas. Ela atrai, seduz, vicia e manipula as pessoas. É surpreendente a quantidade de tempo que as pessoas passam diante da televisão. Em média as pessoas gastam de três a cinco horas por dia diante da televisão. A televisão torna-se um vício e esse vício leva as pessoas a se tornarem passivas. Elas deixam de pensar e tornam-se preguiçosas mentalmente. A televisão tende a destituir as pessoas da crítica intelectual, produzindo nelas uma verdadeira flacidez mental.
2. A exaustão emocional – A televisão tende a tornar as pessoas emocionalmente insensíveis. As tragédias do mundo inteiro são despejadas dentro da nossa casa e não temos tempo para deglutir todas essas coisas. No afã de retratar a realidade, muitas vezes, a televisão torna-se formadora de opinião, induzindo as pessoas às mesmas práticas que ela divulga. A violência e a imoralidade andam de mãos dadas na televisão. Desta forma, ela não apenas retrata o que existe na sociedade, mas torna-se uma mestra dessas mesmas nulidades.
3. A confusão psicológica – A televisão tende a tornar as pessoas psicologicamente confusas. Idéias, conceitos, valores, filosofias e crenças são despejados diante das pessoas e muitas vezes, elas não têm o discernimento necessário para filtrar o que é certo e errado. A perda do senso crítico e a incapacidade de avaliar o que está por trás das propagandas, das telenovelas, dos filmes e até mesmo de alguns documentários e noticiários produzem uma confusão psicológica de graves conseqüências.
4. A desorientação moral – A televisão tende a deixar as pessoas em desordem moral. A vasta maioria dos programas, especialmente aqueles que dão mais ibope, estão eivados de valores éticos distorcidos e até mesmo nocivos para a família. A violência veiculada na televisão é uma verdadeira escola de crime. As telenovelas fazem apologia da infidelidade conjugal. Os valores morais absolutos são tripudiados e a flacidez moral enaltecida. Aqueles que se viciam na televisão alienam-se dentro de casa, matam a comunicação familiar e se intoxicam com conceitos liberais e permissivos que conspiram contra a família e provocam verdadeira confusão moral.
5. O esfriamento espiritual – A televisão tende a deixar as pessoas apáticas espiritualmente. Muitas pessoas trocam o culto devocional pela televisão. A tela cheia de cor e imagem ocupa o lugar da leitura da Palavra de Deus e da prática da oração. A comunhão com Deus e com os membros da família é substituída pelo vício perigoso da televisão. Que Deus nos dê discernimento para separarmos o precioso do vil e restaurarmos o altar do Senhor em nossa casa.

Rev. Hernandes Dias Lopes

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Fé, política e espiritualidade...

... Um mandamento a todo cristão!

"A omissão ou a resignação dos cristãos em participar de todo o processo de decisão na órbita da política, fatalmente, incorrerá em oferecemos ao próximo conceitos e princípios de personalidades descompromissadas com o servir, o ouvir e o tolerar."

Desde quando me compreendo como gente capaz de estabelecer considerações sobre os acontecimentos nevrálgicos ou corriqueiros da vida, sempre me deparava com uma visão de escárnio e ojeriza dos cristãos no que toca a política.

De regra, uma fraxe de praxe, ainda fluente em nossos dias, "fé e política não se misturam".

Deveras, devo concordar em todas as vertentes e horizontes os motivos de muitos permanecerem com uma posição de indiferença.

Tão somente, faço um adendo a efeito de analisarmos a distinção dessas esferas e, sem hesitar, acabam por se complementar.

Atentemo-nos para o texto de Matues 05, as bem-aventuranças e chegaremos a categórica conclusão de todas as manifestações das qualidades e potencialidades humanas desembocam no serviço transformador e restaurador da vida.

Evidentemente, muitos poderão e irão atentar para um fluxo de puerilidades e desvirtuamentos de determinados líderes evangeliciais, mais parecidos com proprietários de cabeças de votos.

Devo reconhecer, o conspurcar da palavra de Deus como uma espécie de manto protetor de oportunistas, lastimavelmente, perambulando pelos púlpitos.

Vou mais além, de sacerdotes abrindo mão do mandato de servir, de ouvir e tolerar, em prol de uma ascensão na esfera das decisões políticas, legislativas, cujas consequências são contundentes no nosso cotidiano.

De tudo isso, vejo a política como o espaço destinado a proporcionar a preservação, a promoção e emancipação da vida humana.

Isto implica, aqui neste ângulo de reflexão, a incumbência da Igreja, pessoas resgatadas na sua identidade de ser imago dei, nascente de um Deus projetista e concatenador da vida (seja no seu micro ou macro), em participar da formação de cristãos, de cidadãos, de homens e mulheres enreados para serem testemunhas, discípulos e servos das boas-notícias.

Tanto nos âmbitos do legislativo quanto do judiciário ou executivo!

Agora, sou compelido a confessar a minha preocupação com o enxame de candidatos, sem nenhuma historicidade e contextualidade de serviços ou liame cristão, tentando se valer do slogan ''Pastor tal, candidato tal''.

Para piorar a situação, os meandros de um caudilho ditatorial, lugubremente, dentro de certos arraiais, cujos pretensos líderes, ignominiosamente e vituperalmente, fazem articulações a fim de angariar votos.

Não obstante tamanhas mazelas visíveis, devemos, sim e sim, enquanto estivermos no presente oikos, ser partícipes e participantes em benefício do soerguer de um sistema político regido por pessoas, ser cristãs ou não, submetidas e regidas pela Graça de Deus.

Sem hesitar, suplicar ao Deus da história e trans-história por desencadear o promanar de uma Igreja de práxis, de oração, de meditação séria e sincera da palavra, de uma comunhão espiritual fraternal, solidária e dinâmica.

Vale dizer, um dos mais e maiores sinais de quem enseja adentrar na esfera pública, representa aceitar o chamado para o servir, para o ser servo e serviço.

Ademais, possamos preconizar ao Espírito Santo, ao Deus em que desenhou as mais minúsculas moléculas e partículas, haja com misericórdia, perdão e clemência em prol dessa nação.


Por: Robson Santos Sarmento

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Espiríto sopra onde quer...

Quando leio a Bíblia, não encontro uma filosofia, não encontro um discurso político, uma questão metafísica e nem mesmo uma religião. Encontro a tentativa de um diálogo de Deus com o homem. Uma palavra pessoal que me é endereçada e me interroga sobre o que eu faço, sobre o que eu espero, sobre o que eu duvido, sobre o que eu penso e sobre o que eu sou.
Os textos bíblicos me comprometem, me fazem entrar numa caminhada que não está relacionada aos meus pontos de vista pessoais, nem as minhas escolhas racionais e ainda não me dão conclusões objetivas sobre tudo o que indago. De certa forma eu digo, embora sabendo que nem todos concordem com as minhas palavras, que os textos bíblicos não concluem nada, porque não há conclusão senão na Jerusalém Celestial e em nossa Ressurreição. E digo mais, os textos bíblicos são jamais uma “solução”, ao contrário, eles indicam um Caminho. Acredito que essa ausência de conclusão sistemática arruína toda tentativa de construção ideológica ou ética a partir da Bíblia.
E é justamente nessa questão, que estão os problemas das instituições religiosas de nosso tempo. Cada organização religiosa cria seus dogmas, seus ritos, suas leis aos quais ensina os seus prosélitos a viverem de acordo com o seu “próprio” sistema cristão. Quando uma organização religiosa tenta santificar as pessoas que a compõem, cria em si uma negação dos próprios fundamentos do cristianismo pelo triunfo da lei sobre a graça. Num esforço “supremo” de doutrinar a conduta cristã, de fixar definições e termos, as igrejas de nosso tempo “canalizaram” a Palavra de Deus criando um sistema complexo de “tubulações” que gerou um emaranhado de condutores específicos para cada denominação, fazendo cada igreja possuir o seu sistema condutor, um diferente do outro. Ao passo que nas Escrituras o que vemos é justamente o inverso, pois não existe um ponto de estabilização doutrinal nem dialético. “Porque o Espírito sopra onde e aonde quer”. A igreja está sendo vencida por acreditar cristianizar e moralizar o homem decaído não através da Graça, mas de suas leis farisaicas que mais escravizam do que traz liberdade. Eis aí uma pequena evidência do fracasso de nossa insignificante religiosidade disfarçada de altruísmo ou coisa semelhante.

Deus tenha misericórdia de nós.

Por: Angelo Barbosa Da Silva

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Um novo sabor relacional

O evangelho é mesmo poder de Deus, força transformadora para aqueles que creem e, por isso, experimentam novidade de vida.

A partir da relação com Cristo nossas relações ganham um novo frescor. Algumas mudam o rumo, outras recebem novo significado, e a qualidade melhora. Com Jesus a linguagem da alma é resgatada e assim aprendemos a nos expressar mais e melhor. A profundidade é buscada e promovida; afinal, as perguntas de Jesus nos obrigam a sair da superficialidade, revelam coisas enterradas dentro de nós, trazem luz às nossas trevas. O evangelho de Cristo nos faz repensar como nos relacionamos, nos faz refletir sobre o cuidado com as palavras, com as pessoas, nos enche de compaixão, nos mobiliza em direção ao outro para servi-lo.

Nossas práticas são revistas e transformadas. Uma sensibilidade crescente em relação ao próximo nos indica que Cristo está fazendo algo novo em nós. A partir daí novas responsabilidades nascem, o próximo passa a ser alvo de minha atenção, e compromissos brotam, trazendo-nos novas agendas.

O pecado causou um estrago enorme em nós, contaminando também nossos relacionamentos. Devido a isso, a conversão a Cristo traz-nos mudanças radicais. Restaurações são necessárias. Entretanto, a queixa constante ainda é: “Se o ser humano é complexo, fulano é uma mutação piorada”. Contudo, se o pecado nos adoeceu a todos, quais os sinais de saúde que o evangelho promove?

Quando falamos de relações e convivências difíceis, facilmente nos vem à mente a comunidade dos coríntios. Ali há desrespeito, difamação, competição, malícia, arrogância, inveja, deslealdade, ganância e uma lista que cansaria qualquer um. Como conviver com gente assim? Onde encontrar ânimo?

O apóstolo Paulo, a certa altura, escreve: “Falamos abertamente a vocês, coríntios, e lhes abrimos todo o nosso coração! Não lhes estamos limitando nosso afeto, mas vocês estão limitando o afeto que têm por nós. Numa justa compensação, falo como a meus filhos, abram também o coração para nós!” (2Co 6.11-13, NVI). A transformação do evangelho na vida de Paulo é impressionante; antes perseguidor, agora acolhedor. O apóstolo fala-lhes de tristezas, conversa a partir de sua própria pobreza, assumindo que de si mesmo nada tem a oferecer, e com exemplo e coragem convida os irmãos a abrirem o coração. Ele expressa seu afeto por aquelas pessoas com inteireza -- “é de todo o coração”.

Como é difícil em nossos dias sermos pessoas que se rendem de todo o coração. Nosso contexto é de fragmentação, e à medida que o medo aumenta os muros crescem. Parece que estamos cada vez mais isolados e confusos. Carentes, porém, temerosos; desejosos por profundidade, mas resistentes à intimidade. Para muitos, compromisso hoje em dia é sinônimo de aprisionamento, e manter distância é sempre assegurar-se de algum conforto e maior segurança. Como o evangelho nos muda apesar desse contexto doentio?

A dica vem do próprio Jesus. É como se ele dissesse: “Ouça a Deus, você está debaixo de novo senhorio. Ouça a sua recomendação, escolha a vida, atente para o que ele ensina. Ame o Senhor, o seu Deus, e o faça de “todo” o seu coração, de “toda” a sua alma, de “todo” o seu entendimento e de “todas” as suas forças. Assim você aprenderá a amar o próximo como a si mesmo” (Mc 12.30-31). Uma nova consciência surge, a alma é tocada, uma profundidade inédita nos toma e os encontros jamais são os mesmos.

Como diz o famoso escritor argentino Ernesto Sabato, “toda vez que perdemos um encontro humano uma coisa se atrofiou em nós, ou se quebrou”. Agora, por causa de Cristo, saímos da toca, tocamos e somos tocados; novas manifestações da alma apuram o paladar de nossas relações.

Thais Machado

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A adoração verdadeira

A adoração verdadeira é manter sempre o foco em Deus. Partindo deste pressuposto, podemos discernir se de fato estamos adorando a Deus verdadeiramente em nossas reuniões de adoração ou na vida particular. Quando nossas motivações reais para adorar ao Senhor se apresentam distantes do ideal de focalizar Deus em todas as coisas – isto é, glorificá-Lo acima de tudo e todos – não podemos afirmar que estamos adorando a Deus. Assim, será que o que nós convencionamos chamar de adoração a Deus não é uma grande farsa? Para responder acertadamente a esta pergunta precisamos definir com exatidão em quem está o foco na adoração.

O homem pós-moderno aprendeu desde cedo que é importante ser aclamado e ovacionado. Esta tendência vem do berço, pois todos nós nascemos pecadores com a natureza de Adão. Sendo assim, o homem quer ter a primazia em tudo. E não é mera coincidência porque muitas das letras de músicas que são conhecidas como “músicas de adoração”, na verdade centralizam o homem e colocam Deus como apenas um supridor de necessidades. Se o foco está no homem e se Deus é apenas acessório, definitivamente isto não é adoração verdadeira. Podemos observar ajuntamentos de pessoas cantando euforicamente, mas são cânticos lançados ao vento que não chegam ao trono de Deus, pois somente Ele é digno de ser adorado e reconhecido como o Altíssimo.

Para adorar a Deus o homem precisa se esvaziar de suas vontades carnais. O homem tem que descer do trono e sair do pedestal de orgulho. Somente ao negar-se a si mesmo, o homem terá condições de adorar verdadeiramente a Deus. Somente ao rejeitar sua própria glória, o homem poderá achegar-se a Deus com o propósito sublime de glorificar somente o Seu Excelso Nome.

Esta é grande necessidade dos nossos dias. O Pai ainda procura os adoradores que O adorem em espírito e em verdade, mas somente os filhos redimidos do ego e convertidos pela graça estão prontos para oferecer-Lhe uma adoração não fingida. Quem já foi convertido pela graça entende perfeitamente que o foco da adoração deve estar direcionado somente para o Senhor Deus, que é o Único merecedor de honras, glória e louvor pelos séculos dos séculos.

marckmelo.blogspot.com