segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Deus dá nós recebemos

[Vocês] receberam uma fé tão preciosa como a nossa. (2Pe 1.1b)
A fé salvadora não é uma conquista meritória, fácil ou humana. Ela não nasce aqui: ela vem de cima. Não é um prêmio: é uma graça. O pecador não planta nem colhe a fé salvadora: ele a recebe de presente. Não é o ser humano que levanta a sua mão para apanhar a fé salvadora: é Deus que abaixa a sua mão para entregar a fé salvadora. “A salvação não é o resultado dos esforços de vocês” (Ef 2.9). Pela graça de Deus é que somos salvos, por meio da fé. A graça de Deus gera tanto a fé salvadora quanto a salvação. O máximo que podemos fazer é desejar, suplicar e estender as mãos em forma de concha para que a bondade de nosso Deus a coloque ali.
É assim que Pedro inicia a sua Segunda Carta: “Eu, Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, escrevo esta carta para vocês que, por causa da bondade do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam uma fé tão preciosa como a nossa” (2Pe 1.1).
Na soteriologia cristã, o verbo receber tem supremacia sobre o verbo apanhar, como a palavra fé tem supremacia sobre a palavra obras. Jesus veio para o seu próprio povo, mas os seus não o receberam. Salvaram-se aqueles que creram nele e o receberam (Jo 1.11-12). João Batista acertou em cheio quando declarou: “Ninguém pode ter alguma coisa se ela não for dada por Deus” (Jo 3.27). E a maior de todas as dádivas de Deus é o seu próprio Filho: “Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
— O presente não se compra: recebe-se!

Sem Exceções

No que diz respeito aos meus próprios pecados, é bastante segura (ainda que incerta) a aposta de que minhas desculpas não são tão boas quanto eu imagino.
No que diz respeito aos pecados dos outros contra mim, é seguro (ainda que incerto) apostar que suas desculpas são melhores do que eu imagino.
Por isso temos de começar por prestar atenção a tudo que possa mostrar que o outro não merece tanta censura quanto nós achávamos. Mas, mesmo se ele for absolutamente culpado, continuamos tendo de perdoá-lo; e ainda que noventa e nove por cento da sua aparente culpa possa ser explicada por desculpas realmente convincentes, o problema do perdão começa com aquele um por cento de culpa que ainda resta. Desculpar o que pode realmente ter uma boa desculpa não é caridade cristã, é apenas justiça. Ser cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.
Isso é duro. Talvez não seja tão duro quanto perdoar uma única grande injúria. Mas como seríamos capazes de perdoar as persistentes provocações do cotidiano (continuar perdoando a sogra mandona, o marido tirano, a esposa implicante, a filha egoísta e o filho salafrário)? Só mesmo, acredito eu, colocando-nos em nosso lugar, acreditando no que dizemos todas as noites em nossas orações: “Perdoa os nossos pecados, assim como nós perdoamos os nossos devedores”. O perdão não nos é oferecido em nenhum outro termo. Recusá-lo significa recusar a graça de Deus para nós mesmos. Não há indícios de exceções, e Deus sabe bem o que está falando.

Falsidade

No passado apareceram falsos profetas no meio do povo, e assim também vão aparecer falsos mestres entre vocês. (2Pe 2.1a)
Além de constante, a falsidade é uma presença embaraçosa, incômoda e aborrecida. O pior é que além de profetas falsos, há irmãos falsos, testemunhas falsas, apóstolos falsos, pastores falsos e até falsos cristos. Se isso ainda não fosse o bastante, há lábios falsos, línguas falsas, palavras falsas, escrituras falsas, visão falsa, motivos falsos, nomes falsos, acusações falsas, notícias falsas, amor falso, juramento falso, elogios falsos, amigos falsos e até humildade falsa. É um oceano de falsidades!
Para agravar a situação, o falso parece autêntico, o lobo parece a vovozinha, o amargo parece doce, o feio parece bonito, o fedido parece cheiroso, a treva parece luz, o inimigo parece amigo, o adversário parece um anjo de luz.
Essa confusão toda me obriga a tomar algumas providências. Tenho que conhecer a diferença entre o falso e o verdadeiro. Tenho que ser ora desconfiado ora não, tenho que ser ora maldoso ora não, tenho que ser ora cético ora não. Não devo errar, não posso errar. Nem de um lado nem de outro. Não posso ser astuto como as serpentes o tempo todo nem simples como as pombas o tempo todo. Há tempo para tudo!
Nesse oceano de falsidades, para cometer acertos e não cometer desacertos, preciso de discernimento. Para obter sabedoria para tanto, preciso ser humilde suplicante como Salomão: “Dá-me sabedoria para que eu possa… saber a diferença entre o bem e o mal” (1Rs 3.9).
— Só Deus pode me mostrar a diferença entre os que servem e os que não servem!